Fercal em Duas Rodas

quinta-feira, 28 de março de 2013

Excelente matéria sobre nós Motociclistas


Vida em duas rodas
Motoqueiros, não. Eles são motociclistas, estilosos como poucos, e levam bem a sério cada detalhe dos trajes que escolheram
Cecília Garcia - RedaçãoPublicação:23/01/2013 16:26Atualização:23/01/2013 18:27
Jorge Orro, presidente do grupo Proprietários de Harley Davidson (PHD): 'Ter uma moto dessas é um sonho aos 18 anos que só se realiza aos 50'  (Fotos: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
Jorge Orro, presidente do grupo Proprietários de Harley Davidson (PHD): "Ter uma moto dessas é um sonho aos 18 anos que só se realiza aos 50"
 
Capacete, jaqueta, carteira de habilitação. Isso tudo era bobagem para o agora empresário Eduardo Faad. Longe das normas de segurança que hoje protegem os motociclistas, a realidade de quando ele tinha 15 anos e havia acabado de comprar sua primeira moto, uma Caloi Mobilete de 50 cilindradas, era bem diferente. Em Brasília, na década de 1980, Eduardo usufruía da tranquilidade permitida pela pequena frota de veículos para pilotar sua moto pela cidade. De lá para cá, teve cinco motos. Uma delas foi uma RX 80, Yamaha fabricada no Brasil entre 1981 e 1983, e que tinha 30 cilindradas a mais que a antiga Mobilete.

A paixão pelo motociclismo continua. Presidente do motoclube Calvaria, Eduardo tem hoje uma Harley Davidson. “A Harley é um ícone para mim.”
Não só para Eduardo. O ronco do motor, as rodas e pneus largos que equilibram as máquinas de mais de 2 m de comprimento fazem dos modelos da Harley os mais cobiçados pelos que apreciam motos clássicas.

Esses admiradores, inclusive, fazem parte de um motoclube mundial chamado Harley Owner Group (H.O.G). E o processo de filiação é “automático”. Assim que a pessoa compra uma moto da marca, passa a fazer parte do H.O.G. Depois de um ano, a Harley dos Estados Unidos envia uma proposta para que o motociclista continue filiado. É cobrada uma taxa por ano, que dá direito a benefícios como descontos nas roupas e em festas promovidas pela Harley Davidson.

Em Brasília, mais de 500 pessoas – com idades entre 27 e 72 anos –, compartilham o gosto por essas motos desde a inauguração da filial brasiliense, em dezembro de 2011. A paixão não é barata: o modelo mais em conta sai por cerca de R$ 30 mil reais. Mas isso não desanima esses aficionados. Os integrantes do H.O.G desenvolvem atividades como passeios de moto, bate-volta (que significa ir até algum lugar próximo do DF, como o Itiquira, almoçar e voltar para Brasília) e ações sociais.
A diretora do Medusas em Brasília, Neia Godinho (à frente, dir.): estatuto, regulamento interno e brasão, 'só para convidadas' (Fotos: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
A diretora do Medusas em
Brasília, Neia Godinho
(à frente, dir.): estatuto,
regulamento interno
e brasão, "só para convidadas"
O visual também sugere o estilo de vida. Couro e óculos escuros são itens indispensáveis. Que o diga Jorge Orro. O servidor público aposentado é o diretor da H.O.G Brasília e presidente do grupo Proprietários de Harley Davidson (PHD): “Ter uma moto dessas é um sonho aos 18 anos que só se realiza aos 50”, brinca. Ele comprou a sua em 2002, por R$ 72 mil.

Mas nem só de Harleys se locomovem os motociclistas do cerrado. Existe uma forte e numerosa tribo urbana de apaixonados por motos no DF. Quando andam em grupo pelas vias da cidade, os motociclistas chamam a atenção, especialmente se o comboio for feminino.

Por 6 km, a reportagem seguiu o motoclube Medusas. Foi suficiente para observar a quantidade de buzinadas, gracinhas e torções de pescoço. A diretora do Medusas em Brasília, Neia Godinho, explica que esse é um grupo 100% feminino e tradicional. Tem estatuto, regulamento interno, brasão e até CNPJ. Segue também uma hierarquia própria. Para ingressar nesse clube, é preciso convite. Depois, passa por uma fase de testes: são dois a três meses rodando no grupo, período em que o comportamento é avaliado. Aprovada, a mulher passa por etapas chamadas “próspera” e “meio-escudo”, e só então pode vestir o colete com o escudo completo das Medusas.
O empresário Eduardo Faad está em sua quinta moto: paixão pelo motociclismo começou cedo, na adolescência, e continua até hoje (Fotos: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
O empresário Eduardo Faad
está em sua quinta moto:
paixão pelo motociclismo
começou cedo, na adolescência,
e continua até hoje
O grupo foi criado em 2006 em Curitiba. A primeira subsede é a brasiliense, que começou suas atividades em 2007. Cada filial pode ter apenas 11 integrantes. Isso devido ao mito grego de Medusa, que nomeia o motoclube. No brasão das moças, a cabeça mitológica tem 11 cobras, representando cada uma das possíveis afiliadas. Em Brasília, são sete integrantes e uma próspera. “Motoclubes são reuniões de pessoas com o mesmo hobby, mas temos uma grande preocupação com o social”, explica Neia. “Nossa tradição é estradeira”, completa Flávia Regina, integrante do grupo. Além dos passeios de moto pela cidade e das reuniões mensais, elas fazem viagens nos fins de semana. Já foram a Curitiba, num trajeto de 1.500 km. Os maridos, pelo menos a maioria, são também motociclistas. “Cansamos de ficar na garupa”, brinca Flávia. A consultora em TI Adriana Komar aderiu ao estilo de vida em função do marido. Hoje, mesmo divorciada, permaneceu no motociclismo.

Um ponto importante para os motoclubes é o colete. Considerado a segunda pele, ele carrega o brasão do grupo e outros emblemas. “Nós podemos levar na garupa outra Medusa, mas não podemos levar alguém com um colete de outro motoclube, porque tampa o nosso”, explica a diretora Neia. Não apenas isso. Ir a algum evento sem a vestimenta ou perdê-la é caso de punição.

O acessório, geralmente de couro, é o que identifica os motoclubes nos eventos. As reuniões são frequentadas religiosamente pelos motociclistas de Brasília. De terça a sábado, em diferentes pontos da cidade, é possível encontrar homens e mulheres, jovens e idosos que se unem por causa da paixão por duas rodas.
O advogado Luciano Bueno também investe no hobby: frequentador assíduo de encontros de motociclistas (Fotos: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
O advogado Luciano Bueno também investe no hobby: frequentador assíduo de encontros de motociclistas

Eventos desse tipo em Brasília são comuns desde o início dos anos 2000. Roberto Guimarães Carvalho organiza encontros de motociclistas desde 1999. Ele explica que, na década de 1990, grupos de motociclistas já se reuniam, mas o movimento cresceu nos anos 2000. Na época, os encontros eram realizados no Shopping Flamingo (Sobradinho), no estacionamento do Pão de Açúcar (Lago Norte) e no Terraço Shopping.
Duas das reuniões atuais são as realizadas às terças e às quartas. Roberto Guimarães organiza o Point das Máquinas, no Autódromo Internacional Nelson Piquet, que atrai cerca de 3 mil motociclistas por semana. Outro encontro é o Flórida Riders, no estacionamento do Shopping Flórida Mall, na EPTG. Motos, música, comidas e apresentações artísticas animam esses lugares.

Frequentador assíduo desde 2003, o analista de sistemas Geovani Sorrentino é dono de uma Yamaha modelo Virago 250, comprada há nove anos. “E pretendo usá-la até virar poeira”, brinca. Pensa, no entanto, em comprar uma mais potente para viajar. No caso do advogado Luciano Bueno, a paixão pelas motos começou quando era adolescente e morava no interior de São Paulo. Sua primeira motocicleta foi comprada em 1985, quando tinha 15 anos. E para andar pela cidade: “Vivia fugindo da polícia”, brinca.

Em todos os encontros, além do ronco dos motores, o que embala as festas é a música. Eduardo Ferreira é vocalista e baterista da The Memories, banda que toca em festas de motociclistas desde 2000. O chamado power trio – formato de conjunto composto por bateria, guitarra e baixo – tem como repertório rock clássico internacional dos anos 1950, 60 e 70. Eduardo explica que o motociclismo está muito ligado a esse estilo musical, mas isso está diminuindo um pouco. Os mais jovens estão seguindo pela vertente do rock brasileiro, como Raul Seixas e Mutantes.

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